InícioDicasEstudosO que é a aprendizagem baseada em problemas na graduação?

O que é a aprendizagem baseada em problemas na graduação?

Quando pensamos em escola, a primeira imagem que vem à cabeça é geralmente aquela do professor escrevendo na lousa. Os alunos, enfileirados em carteiras, devem copiar o conteúdo, decorar para fazer uma prova e serem avaliados pelos seus conhecimentos. 

Esse modelo antigo, mas que ainda é bastante presente em instituições de ensino, é o que o pensador Paulo Freire chamava de “educação bancária”. Nela, o conhecimento seria supostamente “transferido” do professor, que detém o conhecimento e o poder, para o aluno.

Diversas correntes pedagógicas, no entanto, vêm questionando essa ideia de aprendizagem e proposto novas formas de aprender: as chamadas “metodologias ativas”. São práticas com uma visão mais humanista, que considera o professor e o aluno como agentes da construção de conhecimento. Dessa forma, os conteúdos são formados de forma contextualizada na realidade, e ganham sentido para o estudante. 

Uma dessas metodologias ativas é a aprendizagem baseada em problemas, que tem ganhado espaço também em cursos de graduação, especialmente em faculdades da área de saúde. 

Aprendizagem baseada em problemas? O que é isso?

Como o próprio nome diz, a aprendizagem baseada em problemas nada mais é que um método de ensino que envolve a resolução de situações para o aprendizado. Em um curso de medicina, por exemplo, o quadro de um paciente, fictício ou real, pode ser apresentado aos alunos. A partir disso, eles podem pesquisar, discutir e chegar a um consenso sobre o tratamento.

É um método que pode motivar uma turma que provavelmente carrega em seu repertório acadêmico uma educação tradicional, baseada na transmissão de informações. Mas não se limita a isso.

A aprendizagem baseada em problemas pode ajudar um aluno a ter uma compreensão mais profunda e integral de um determinado assunto, relacionando teoria e prática. Ela também trabalha questões fundamentais a futuros profissionais. Isso inclui autonomia e independência, já que prevê a aprendizagem ativa do aluno, a partir de sua própria pesquisa. 

Com atividades em grupo, essa metodologia pode ainda proporcionar outras habilidades. Entre elas, a capacidade de uma comunicação clara, convívio com outras formas de pensar, pensamento crítico, e mais. A percepção de diversas formas de adquirir um determinado conteúdo ou de outros tipos de inteligência também faz parte.

Aprendizagem ativa

É a oportunidade do “aprender fazendo”, como apontam os pesquisadores da PUC-Campinas Eli Borochovicius e Jussara Cristina Barboza Tortella no artigo Aprendizagem Baseada em Problemas: um método de ensino-aprendizagem e suas práticas educativas. É assim que o aluno se envolve no próprio processo de aprendizagem, mas com o apoio do professor:

A estratégia mais apropriada para trabalhar com os conceitos procedimentais é a de proporcionar ajuda ao discente ao longo das diferentes ações, reduzindo o apoio progressivamente com atividades de trabalho independente, de sorte que possam demonstrar suas competências no domínio do conteúdo aprendido”, explicam, no estudo publicado em 2014.

Para que esse envolvimento faça sentido, a ideia é que o método seja trabalhado de modo interdisciplinar, e não apenas em um projeto de determinada disciplina. A instituição de ensino deve criar uma “estratégia educacional e uma filosofia curricular”. Assim, os professores podem construir o conhecimento de forma ativa e colaborativa. Fazem isso em um ensino contextualizado e apropriado pelos estudantes. E isso tem acontecido em algumas universidades ao redor do mundo.

A aprendizagem baseada em problemas na área da saúde

Além da Educação Básica, a metodologia tem conquistado algumas instituições de Ensino Superior. Especialmente em cursos voltados para a área da saúde. É o caso da faculdade canadense de Medicina, a Mc Master University. Ela foi pioneira ao adotar o método de forma plena em seu currículo. A mudança, que tinha como princípio instituir trabalhos em grupos que relacionassem conhecimentos prévios, teoria e prática, inspirou outras instituições pelo globo. 

Tanto que, em 2019, 11 profissionais de diferentes universidades reuniram-se para investigar algumas dessas iniciativas. O resultado foi a pesquisa Vantagens da utilização do método de aprendizagem baseada em problemas (MAPB) em cursos de graduação na área da saúde, que colheu diversos desses casos.

A estadunidense Southern Illinois School of Medicine foi um deles, mas que optou por um caminho diferente da Mc Master do Canadá. Ela aplicou o método de forma paralela ao currículo tradicional. E quem incorporou aos poucos esse tipo de aprendizagem foi a conceituada Harvard Medical School. Ela começou apenas com um subgrupo de estudantes expostos às atividades. A mudança em relação ao currículo tradicional, que continuou em vigor, acontece gradualmente.

Iniciativas no Brasil

No país, a aprendizagem baseada em problemas também foi incorporada a currículos da área da saúde. No curso de Fonoaudiologia da Universidade Federal do Sergipe, por exemplo, os alunos têm acesso a essa metodologia com programas de estágio e no Trabalho de Conclusão de Curso. Além disso, algumas disciplinas fomentam a inserção dos alunos na resolução de problemas que envolvem a comunidade no entorno da universidade.

Outra universidade brasileira a fazer o mesmo foi a UFPel, que teve o cuidado de articular os saberes biológicos e de cuidado, essenciais aos profissionais da área. Ali, foram incluídas também atividades em cenários reais e simulações em seminários e oficinas.

Uma atividade de simulação é o caso de papel, em que grupos de 12-15 alunos reúnem-se com um professor/facilitador, dispostos em círculo. São dois encontros de duas horas, com um intervalo de uma semana entre cada um. No primeiro, a “abertura do caso”, a situação-problema é apresentada como disparador.

É a partir dessa situação que os estudantes são incitados a desenvolver o pensamento clínico e crítico. Assim, buscam conhecimentos necessários para solucionar aquele caso e organizar essas informações até o fechamento do caso, na semana seguinte.

Benefícios

Com todas essas experiências, relatos de alunos e professores e revisão bibliográfica, foi concluído que a utilização da metodologia contribui para vários aspectos. Boa comunicação, trabalho em conjunto, integração do conteúdo, colaboração e independência, capacidade de discussão são alguns deles. Além, claro, da formação  de  um  profissional mais reflexivo, crítico e humanista.

Os autores, no entanto, ressaltam que o sucesso do método depende do comprometimento dos estudantes. Afinal, é fundamental que eles desenvolvam autonomia e independência na construção do próprio conhecimento.

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